Discobertas é
um nome com uma sacada bacana do produtor Marcelo Froes, relacionando o disco
com suas pesquisas no mercado fonográfico. Ele tem grande experiência nesse
segmento e depois de tentar encaixar seu projeto no circuito comercial, decidiu
encarar o empreendedorismo de lançar seu próprio selo em 2002. A ideia foi
amadurecendo e em 2007 o Discobertas conseguiu distribuição dos CDs pela
Coqueiro Verde. Entre 2009 e 2013 eles trabalharam com a Microservice e agora
estão na Novodisc, já lançando em vinis produzidos na Argentina.
O catálogo de
vinil tem os discos Zá Ramalho – “Atlântida”, Alceu Valença – “Raridades Anos
70”, Alberto Rosenblit & Mario Adnet e a coletânea “Direitos Humanos no
Banquete dos Mendigos Vol.1” (imagens acima). E entre os próximos lançamentos estão Jards
Macalé, Maria Alcina, Cida Moreira, Claudette Soares, entre outros.
Já o catálogo
em CD é maior e tem muito material raro, até então inédito de época e fora do
circuito comercial. Froes faz pesquisas em acervos de selos e gravadoras falidas
ou desativadas encontrando material esquecido que estava há anos encaixotado e
que não tinha expectativa de ser lançando.
E alguns até acabam
ganhando edições caprichadas em box (imagem abaixo). O
foco é em colecionadores e não para vender milhares de unidades. Um paralelo
curioso com o que aconteceu com o mercado de historias em quadrinhos no Brasil,
onde as editoras passaram a lançar edições especiais caprichadas em pequena
quantidade.
Entre os
artistas já lançados em CD estão Noel Rosa, Zimbo Trio, Ed Lincoln, Marcos
Valle, Wanderleia, Moreira da Silva, Cauby Peixoto, Toquinho, Taiquara, Elza
Soares, Beth Carvalho, Gilberto Gil, entre outros. O Projeto Zombilly
entrevistou Marcelo Froes que comentou sobre o seu trabalho e o mercado
fonográfico.
ENTREVISTA
ZOMBILLY - Como foi a iniciativa em lançar vinil também depois de trabalhar só
com CD ?
MARCELO FROES - Foi natural. A Novodisc vinha estudando entrar no negócio e
desde o começo manifestei meu entusiasmo e apoio.
Você
acompanha a demanda do mercado fonográfico do vinil no Brasil?
Acompanho sim e pretendo acompanhar mais.
Como funciona
a negociação dos direitos pra você fazer a reedição de um disco que você
pesquisou?
Exatamente, tudo muito burocrático e lento. Mas, sem fazer muita conta porque
senão alguns produtos nunca nasceriam. Uns pagam os outros e a satisfação não
tem preço.
Onde são
feitos os discos da Discobertas e qual a media de tiragem?
São prensados em 180 gramas na Argentina, onde existem mais fábricas que no
Brasil. Visitei as fábricas em fevereiro e optamos pela mais moderna, que
dispõe das mesmas prensas alemãs Newbilt Machinery que o Jack White comprou pra
sua fábrica.
Em suas
pesquisas você encontrou referências sobre equipamentos, prensas das
gravadoras? Você acha que é possível acontecer no Brasil o que acontece no
exterior com prensas antigas sendo reativadas como a Vinil Brasil fez ou isso é
difícil?
As prensas brasileiras já eram velhas quando foram sucateadas há 25/30 anos. É
muito árduo o trabalho de reanimar essas máquinas. Mas, fomos por outro
caminho.
Qual o seu
interesse em vinil? O que você tem em sua coleção, o que ouve pessoalmente e
para o seu trabalho ?
Eu tenho milhares de LPs. Amo compactos e compro até hoje. Acho que o vinil, o
CD e o digital podiam conviver pacificamente no Brasil, da mesma forma que é lá
fora. Aqui parece haver uma cruzada dos vinilmaníacos para exterminar o CD. O
que é uma grande bobagem.
* O Projeto Zombilly tem os discos de vinil da Discobertas no acervo das feiras de discos que participamos.
Texto: Andye
Iore / Imagens: Arquivo pessoal