O documentário “All things must pass” (2015) é um dos
mais bacanas filmes sobre a indústria fonográfica. Não só porque mostra a história
da rede de lojas americana Tower Records que se espalhou pelo mundo, como também
aborda as transformações do mercado, questões de gestão administrativa, mercado
imobiliário, comportamento dos colecionadores, entre outros.
O filme tem 1h34 de duração, é dirigido pelo ator Colin
Hanks (de “King Kong” e “The Wonders”) e apresenta depoimentos da família que
abriu a loja original na década de 1940, de funcionários e de clientes entre
eles os músicos Elton John, Dave Grohl e Bruce Springsteen. As entrevistas são
intercaladas com fotos e vídeos de época sobre a loja. O que mostra prateleiras
e cartazes com compactos custando US$ 0,45 e LPs por US$ 1,99.
A Tower Records passou de uma loja familiar que vendia uma
diversidade de produtos até chegar a um bilhão de discos vendidos mensalmente e
falir na década de 2000. A loja começou vendendo remédios, bebidas, doces,
revistas, brinquedos, entre outros produtos em Sacramento, na Califórnia. Até
passar a vender discos usados e expandir aos poucos a seção musical. Isso
aconteceu porque o filho Russ Solomon (imagem abaixo) sugeriu ao pai colocar mais discos. O pai
disse que isso só aconteceria se ele comprasse a loja e fizesse o que quisesse.
E foi o que aconteceu anos depois. A primeira Tower Records somente com vinil
foi aberta em 1961.
O logo da loja foi inspirado no clássico símbolo da Shell
e o lema da Tower era “No music no life”. A rede chegou a ter quase 200 lojas
em 30 países, numa expansão sem planejamento. Somente aproveitando pontos que
estavam vazios com aluguel barato ou parcerias oportunistas. O que sempre
gerava desconfiança nas pessoas que diziam que os donos eram loucos e iam
falir. O que aconteceu muitos anos depois, mas não sem antes formar um império
com histórias malucas de gastanças e luxúrias e que acabaram mudando muita
coisa na indústria fonográfica.
TROCAS - A Tower Records criou e enfrentou mudanças no
mercado. Entre eles a troca do vinil por CD, o sucesso da discoteque, a chegada
da MTV, a concorrência das lojas de departamento, o surgimento do Napster, a
internet, entre outros. A loja era referência para gravadoras e artistas que
faziam questão de ter seus discos aos milhares na rede. E isso gerou uma
campanha publicitária curiosa. Os funcionários da Tower Records ampliavam as
capas de discos para decorar as lojas. E as ampliações ficaram cada vez maiores
até ocuparem outdoors bancados pelas gravadoras.
Outra situação relacionada à divulgação foi que a Tower
lançou a sua própria revista. A Pulse era escrita e produzida pelos funcionários
com entrevistas com bandas e ranking dos discos mais vendidos na loja.
LENDAS – A Tower Records ajudou a difundir a “lenda” de
que o atendimento nas lojas de discos sempre é péssimo porque os funcionários
acham que entendem mais sobre música que os clientes. O que era reforçado pela
falta de treinamento dos novos contratados.
O doc mostra também que nos bastidores da loja rolavam
festas animadas. O dono Russ Solomon só pedia que não se fumasse maconha dentro
da loja. De resto, os funcionários iam trabalhar bêbados direto das baladas, os
diretores contratavam garotas só pelo “sex appeal” delas, entre outras
situações.
Com altos investimentos em novas lojas em outros países e
quedas nas vendas, a rede foi reduzida para pagar dívidas nos bancos. Gestores
do mercado econômico foram contratados para tentar recuperar a rede, mas só
pioraram as coisas. A última loja foi fechada em 2006. Hoje a Tower Records é
uma franquia pertencente a outro grupo, sem muita relevância no mercado e tem
uma loja online.
CURIOSIDADE – Guardada a devida proporção, a história da
Tower Records tem relação com a do Porão Discos, em Maringá. A loja passou de
um sebo com discos, livros e acessórios para se tornar somente loja de discos
após mudança administrativa; teve uma filiam em Bauru (SP), passou por mudanças
do mercado como a troca do acervo de vinil para CD e fechou por causa de dívida
no banco. E a história do Porão Discos será mostrada no doc "Punká - uma história punk em Maringá".
Texto: Andye Iore / Fotos: Divulgação