quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Independentes precisam se organizar - Parte 2

Em junho do ano passado publicamos texto citando situações comuns a selos independentes no Brasil. Como preços, distribuição, divulgação, entre outros procedimentos envolvendo a rede: selos, gravadoras, lojistas e colecionadores.

Além da situação econômica do país estar patinando, 2020 piorou com a pandemia de coronavírus. Curiosamente, mercado fonográfico esteve aquecido durante todo ano. Vendas aumentaram, e muito, pela internet. 

Nas fábricas, posturas diferentes. Polysom vendeu somente seu catálogo segurando lançamentos para 2021. Vinil Brasil se aventurou e ampliou suas pesquisas e testes. E lançou muita coisa. Além dos diversos fabricantes artesanais riscando discos em casa por conta própria. 

Vamos listar aqui situações que tivemos com selos independentes em 2020. Intenção é que segmento converse, debata e se organize melhor. Não é crítica e apontar defeitos, já que trabalho é difícil para todos. Mas é comum selos atuarem por conta própria sem compartilhar formas de trabalho e organização com outros selos. 

• sem política de preço. Banda/selo vende disco por conta própria por R$ 70 e para atacado (revenda) por R$ 80. Diferença pequena inviabiliza que lojas consigam comprar e vender disco;

• exigência de pedido mínimo e pagamento à vista. Lojas pequenas demoram mais para vender discos independentes. Pedir quantidade mínima inviabiliza lojista a fazer acervo com discos independentes. Também que lojista consiga pagar no prazo, porque foi "obrigado" a comprar mais que consegue vender. Ideal é fazer escala de preços: à vista R$ xx, pagar em 15 dias acréscimo de xx%, pagar em 30 dias mais xx%...

• sem organização para receber pedidos. Revendedor entra em contato com selo pelo telefone, por email ou mensagem e não recebe resposta, não é atendido;

• situação que cresceu em 2020: discos feitos em campanhas colaborativas. Organização não prevê quantidade para venda ao público. Assim, discos são distribuídos entre parceiros - alguns nem vendem seu lote - e não há discos disponíveis para quem não participou do processo e se interessa em comprar depois;

• selos fazem pré-venda sem restrição entre atacado e varejo. Tem sido comum discos na pré-venda esgotarem rapidamente. Nem sempre tiragem é pequena. Acontece que algumas pessoas (lojistas?!?) compram muitas cópias e isso diminui número de fãs da banda que tem acesso ao disco mais barato. Com disco esgotado, quem comprou muitas cópias inflaciona o valor, prejudicando fãs que querem comprar;

• maioria dos lançamentos não tem divulgação. É bem comum discos saírem sem release. Loja que não é especializada não consegue vender disco. Ele é colocado no acervo e fica lá sem atrativo. Um release pode ser impresso pelo lojista e colocado na parede da loja e até mesmo na capa ficando à mostra para cliente ler e se informar; 

• planejar lançamento e distribuição do disco. Imagina trabalho que dá para banda passar anos comprando instrumentos, ensaiando, compondo, ralando pra juntar grana para fazer disco. E depois outra ralação por parte da gravadora/selo em viabilizar o disco na fábrica. Nem todo mundo tem Facebook ou Instagram como fonte de informação. Por isso, é necessário pensar em outras formas de contato, divulgação, venda, distribuição dos materiais para que eles possam ser mais conhecidos e gerar interesse em lojistas e colecionadores; 

• falta retribuição no "esquema". Parceria de um lado só, não é parceria. É muito mais fácil para loja vender 12 discos do Guns´n´Roses que um da banda de garage punk gothic new wave indie metal.... quando lojista se interessa por um disco independente, selo/gravadora deve dar apoio, divulgar a loja em seus canais. Alguns selos não percebem essa situação e acabam "atravessando" negociação da loja com clientes na mesma cidade ou região. Assim, lojista não vende discos que comprou e não volta a comprar mais do mesmo selo, optando por fazer próxima compra de selo mais parceiro; 

• uma reclamação comum entre bandas que querem gravar disco é que é muito difícil fazer tiragem mínima de 300 cópias. Para banda independente/underground não é fácil juntar dinheiro para pagar essa tiragem. Mesmo que custo médio encareça, uma tiragem menor aumentaria muito número de bandas fazendo discos. Consequentemente, ampliaria opções em outros pontos da rede. A Vinil Brasil fez teste com tiragem menor esse ano; 

Esperamos que 2021 seja ano bom para todos. E que mercado fonográfico brasileiro possa crescer ainda mais. Vale ressaltar que não é fase, moda, "bolha"... é um mercado reestruturado,  caminhando para ser melhor que era antes. Todas situações listadas aqui, se organizadas, ajudam selos/gravadoras a venderam mais discos e mais rapidamente. Com isso, fazem mais discos consequentemente. 

• Leia texto que publicamos em 7 de junho de 2019 falando sobre selos independentes brasileiros. 

As fotos que ilustram esse post tem discos comprados diretamente com selos e bandas brasileiras pela loja O Porão Discos, de Maringá (PR). Além do acervo, discos são levados para feiras de discos em dez locais diferentes em São Paulo, Paraná e Santa Catarina, divulgando bandas e selos. 
Página no Instagram: @oporaodiscos 

Um comentário:

  1. Ótimas questões que você aborda aqui, caro Andye Iore. Em resumo, falta de nossa parte (falando como artista e selo), mais organização e planejamento. Mas não é fácil gerir um selo mesmo que pequeno como o meu, o fator mais agravante é realmente o custo para fabricar em vinil, que consequentemente e simultaneamente falta apoio de que diz gostar das bandas e artistas independentes. Exemplo, mesmo determinado público de nicho tal, não compra o disco do artista tupiniquim, preferem comprar os dos "medalhões" do nicho. Analisando alguns gráficos do perfil do meu público, notei que a maioria é o público "comum", que não se diz de determinado meio ou estilo. Diante da soma disso tudo, esse anos não senti forças nem tive realmente como pensar em lançar em formato físico. Pretendo através de quem sabe editais poder fazer uma tiragem maior para baratear o valor unitário e ao mesmo tempo fazer também pequenas tiragens feitas artesanalmente.

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