Em junho do ano passado publicamos texto citando situações comuns a selos independentes no Brasil. Como preços, distribuição, divulgação, entre outros procedimentos envolvendo a rede: selos, gravadoras, lojistas e colecionadores.
Além da situação econômica do país estar patinando, 2020 piorou com a pandemia de coronavírus. Curiosamente, mercado fonográfico esteve aquecido durante todo ano. Vendas aumentaram, e muito, pela internet.Nas fábricas, posturas diferentes. Polysom vendeu somente seu catálogo segurando lançamentos para 2021. Vinil Brasil se aventurou e ampliou suas pesquisas e testes. E lançou muita coisa. Além dos diversos fabricantes artesanais riscando discos em casa por conta própria.
Vamos listar aqui situações que tivemos com selos independentes em 2020. Intenção é que segmento converse, debata e se organize melhor. Não é crítica e apontar defeitos, já que trabalho é difícil para todos. Mas é comum selos atuarem por conta própria sem compartilhar formas de trabalho e organização com outros selos.
• sem política de preço. Banda/selo vende disco por conta própria por R$ 70 e para atacado (revenda) por R$ 80. Diferença pequena inviabiliza que lojas consigam comprar e vender disco;
• exigência de pedido mínimo e pagamento à vista. Lojas pequenas demoram mais para vender discos independentes. Pedir quantidade mínima inviabiliza lojista a fazer acervo com discos independentes. Também que lojista consiga pagar no prazo, porque foi "obrigado" a comprar mais que consegue vender. Ideal é fazer escala de preços: à vista R$ xx, pagar em 15 dias acréscimo de xx%, pagar em 30 dias mais xx%...
• sem organização para receber pedidos. Revendedor entra em contato com selo pelo telefone, por email ou mensagem e não recebe resposta, não é atendido;• situação que cresceu em 2020: discos feitos em campanhas colaborativas. Organização não prevê quantidade para venda ao público. Assim, discos são distribuídos entre parceiros - alguns nem vendem seu lote - e não há discos disponíveis para quem não participou do processo e se interessa em comprar depois;
• selos fazem pré-venda sem restrição entre atacado e varejo. Tem sido comum discos na pré-venda esgotarem rapidamente. Nem sempre tiragem é pequena. Acontece que algumas pessoas (lojistas?!?) compram muitas cópias e isso diminui número de fãs da banda que tem acesso ao disco mais barato. Com disco esgotado, quem comprou muitas cópias inflaciona o valor, prejudicando fãs que querem comprar;
• maioria dos lançamentos não tem divulgação. É bem comum discos saírem sem release. Loja que não é especializada não consegue vender disco. Ele é colocado no acervo e fica lá sem atrativo. Um release pode ser impresso pelo lojista e colocado na parede da loja e até mesmo na capa ficando à mostra para cliente ler e se informar;
• planejar lançamento e distribuição do disco. Imagina trabalho que dá para banda passar anos comprando instrumentos, ensaiando, compondo, ralando pra juntar grana para fazer disco. E depois outra ralação por parte da gravadora/selo em viabilizar o disco na fábrica. Nem todo mundo tem Facebook ou Instagram como fonte de informação. Por isso, é necessário pensar em outras formas de contato, divulgação, venda, distribuição dos materiais para que eles possam ser mais conhecidos e gerar interesse em lojistas e colecionadores;• falta retribuição no "esquema". Parceria de um lado só, não é parceria. É muito mais fácil para loja vender 12 discos do Guns´n´Roses que um da banda de garage punk gothic new wave indie metal.... quando lojista se interessa por um disco independente, selo/gravadora deve dar apoio, divulgar a loja em seus canais. Alguns selos não percebem essa situação e acabam "atravessando" negociação da loja com clientes na mesma cidade ou região. Assim, lojista não vende discos que comprou e não volta a comprar mais do mesmo selo, optando por fazer próxima compra de selo mais parceiro;
• uma reclamação comum entre bandas que querem gravar disco é que é muito difícil fazer tiragem mínima de 300 cópias. Para banda independente/underground não é fácil juntar dinheiro para pagar essa tiragem. Mesmo que custo médio encareça, uma tiragem menor aumentaria muito número de bandas fazendo discos. Consequentemente, ampliaria opções em outros pontos da rede. A Vinil Brasil fez teste com tiragem menor esse ano;
Esperamos que 2021 seja ano bom para todos. E que mercado fonográfico brasileiro possa crescer ainda mais. Vale ressaltar que não é fase, moda, "bolha"... é um mercado reestruturado, caminhando para ser melhor que era antes. Todas situações listadas aqui, se organizadas, ajudam selos/gravadoras a venderam mais discos e mais rapidamente. Com isso, fazem mais discos consequentemente.
• Leia texto que publicamos em 7 de junho de 2019 falando sobre selos independentes brasileiros.As fotos que ilustram esse post tem discos comprados diretamente com selos e bandas brasileiras pela loja O Porão Discos, de Maringá (PR). Além do acervo, discos são levados para feiras de discos em dez locais diferentes em São Paulo, Paraná e Santa Catarina, divulgando bandas e selos.
Página no Instagram: @oporaodiscos